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Nutrição,
probióticos e disbiose: revisão
O
conhecimento científico sobre a importância
da microbiota intestinal para a saúde humana
é tão recente quanto os trabalhos
do famoso cientista Louis Pasteur, que afirmou,
em 1877, "os microorganismos são necessários
para a vida humana normal".
Após
Pasteur, outro conhecido cientista, Escherich, afirmou
que "a interação entre o hospedeiro
e as bactérias é muito importante"
e que "a composição da microbiota
intestinal é essencial para a saúde
e bem-estar do ser humano".
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Entretanto,
foi o cientista russo Elie Metchnikof, ganhador do Prêmio
Nobel de medicina/fisiologia de 1908, que se dedicou a observação
e comprovação da importância dos probióticos
na alimentação e sua relação coma
a saúde humana. Estudando populações
camponesas do interior da Bulgária (região dos
Balcãs) que atingiam alta longevidade com baixo índice
de morbidade, concluiu que o fator diferencial destas populações
sobre outras de regiões próximas era o consumo
de leites fermentados. A partir destes produtos lácteos
ele isolou bactérias, chamados Lactobacillus bulgaricus.
Mais tarde, utilizando-se apenas de enemas retais contendo
estas mesmas bactérias, obteve grande sucesso no tratamento
de pacientes com doenças renais e hepáticas
terminais.
Como então chegamos à
este estado de Disbiose Intestinal? Que fatores propiciam
seu desenvolvimento?
Tudo começa no parto. Está documentado que crianças
nascidas de parto cesáreo tem conteúdo de lacto-bacilos
e/ou bifidobactérias (bactérias probióticas)
significativamente inferior ao das crianças nascidas
de parto normal. Após este, iniciam-se as influências
da alimentação.
Crianças amamentadas exclusivamente ao peito tem um
conteúdo de probióticos muito superior em seu
intestino, bem como menor número de diversas bactérias
patogênicas que aquelas que se utilizam de fórmulas
lácteas. Somando a estes dados, a hospitalização
e o uso de antibióticos são outros dois grandes
agravantes da disbiose intestinal já no recém
nascido. Além disso, é importante salientar
que as bactérias que primeiro colonizarão a
criança, após o nascimento, vêm do canal
de parto, fezes maternas e do meio ambiente em que ela está.
Imagine então uma criança que nasce em um hospital
(ambiente), de parto cesáreo (canal de parto), de uma
mãe com disbiose (uma candidíase crônica
intestinal - por exemplo)! Não fosse pouco, desde cedo
algumas mães introduzem alimentos ricos em dissacarídeos
e monossacarídeos, como mel, xarope de frutose e açúcar
(sacarose) na alimentação de seus filhos. Estes
alimentos são conhecidos promotores da disbiose intestinal,
em qualquer idade.
Em muitos casos, inicia-se nesta tenra
idade um tortuoso processo que se agrava com o passar dos
anos, levando aos mais diversos quadros patológicos,
como será indicado ao longo desta breve revisão.
Importante ainda conhecermos as afirmações de
Bengmark12, em um de seus excelentes artigos publicados na
revista Gut, em 1998. Ele enumera diversos fatores que influem
sobre nossa microbiota intestinal, à saber: idade,
tempo de trânsito intestinal (1), pH Intestinal (2),
disponibilidade de material fermentável (3), interação
entre os componentes da microbiota, suscetibilidade à
infecções (4), estado imunológico (5),
requerimentos nutricionais (6), uso de antibióticos
e imunossupressores. Preste atenção, deste dez
fatores citados, pelo menos seis (6) - numerados - tem uma
associação direta com a Nutrição
realizada pelo indivíduo.
Este é o principal motivo pelo qual o nutricionista
em particular deve ter especial interesse pelos assunto relativos
à saúde intestinal, e se dedicar a conhecer
o assunto em profundidade.
Cabe neste momento definir probiótico, conforme uma
das recentes convençôes: "uma preparação
ou produto contendo microorganismos definidos, viáveis
e em número suficiente, que alterando a microflora
em um compartimento do hospedeiro exercem efeitos benéficos
sobre sua saúde".
Vejamos então o que dizem os estudos clínicos,
quais são as aplicações terapêuticas
da reinoculação intes-tinal com probióticos,
e quais benefícios os indivíduos podem ter com
isso. Para tanto, enumerarei aqui os ditos de Schrenzenmeir
e Vrese:
Efeitos dos Probióticos sobre Humanos sobre os quais
não há dúvidas:
1 - Redução da freqüência e duração
da diarréia associada à antibióticos,
rotavírus, quimioterapia ou diarréia do viajante14
2 - Estímulo à imunidade celular e humoral
3 - Redução de metabólitos bacterianos
indesejáveis, como amônia, agentes alquilantes,
componentes nitrosos e enzimas procarcinogênicas no
cólon
Efeitos dos Probióticos sobre os quais há boas
evidência comprobatórias
4 - Redução da infecção por Helicobacter
pylori
5 - Redução de Sintomas Alérgicos
6 - Alívio da Constipação Intestinal
7 - Alívio da Síndrome do Cólon Irritável
8 - Benefício sobre o Metabolismo Mineral, particularmente
estabilidade e densidade óssea
9 - Prevenção do Câncer
10 - Redução do Colesterol e Triglicerídeos
plasmáticos
Cabe ainda incluir nesta listagem, os conhecidos efeitos sobre
a melhora da digestão, em especial da lacto-se (mas
não restritos a ela) e o antagonismo aos patógenos.
Gostaria ainda de aprofundar um pouco os conhecimento em uma
área tão importante hoje: o câncer Diversos
autores afirmam que "as bactérias intestinais
patogênicas produzem carcinógenos poderosos,
como agentes alquilantes e compostos nitrosos". Além
disso, "metabólitos bacterianos podem possuir
atividade genotóxica, mutagênica ou carcinogênica
e contribuir ao desenvolvimento de câncer, em um longo
período de exposição". É
interessante notar que, um longo período de exposição
é justamente o que ocorre na disbiose intestinal, uma
vez que na maioria dos casos este processo se inicia nos primeiros
meses de vida, surgindo o câncer 40 ou 50 anos depois.
Ao observar uma lista tão grande, de atividades tão
diversas, alguns podem pensar: Será isto possível
? Não será um exagero ? A resposta fica clara
quando conhecemos os mecanismos de ação dos
probióticos em nosso corpo. Antes disso, cabe trazer
à tona alguns pensamentos: você já percebeu
que os probióticos são bactérias que
habitam nosso corpo, em harmonia com nosso sitema imunológico?
Não há resposta imunológica que busque
destruí-los! Por que isto só acontece com estas
bactérias?
Pense nisto, e adicione ainda que os probióticos agem
diretamente sobre a maturação das células
do sitema imunológico, influenciam a expressão
de citocinas, estimulam a fagocitose de leucócitos
periféricos, aumentam a produção de IgA
S, produzem enzimas, bio-surfactantes e dezenas de outras
substâncias, tendo assim um efeito que vai muito além
do equilíbrio do ambi-ente intestinal. Quando você
começar a entender a gama de ações sistêmicas
que se desenvolvem em decorrência daquilo que ocorre
em seu intestino, vai perceber então porque tanto autores
dizem: "Saúde Intestinal: o Início de Tudo".
Nutricionista Gabriel de Carvalho
Nutricionista Funcional graduado pelo IMEC, Graduando
de Farmácia da UFRGS, Diplomado e
Membro do The Institute for Functional Medici-ne, Diplomado
pela Sociedade Gaúcha de Medicina
Biomolecular e Radicais Livres, Professor do Curso de
Medicina Biomolecular do RS e SP desde 1998,
Professor do Curso Nutrição Funcional
desde 1999.
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